Colcha de retalhos feitos com amor

Madison Saldanha Silva, primo do Arthur, e colaborador da Associação Chico Viale

Com a campanha dos "Quadradinhos, por mais um doador de sangue", minha amiga Patrícia Viale, cujo projeto de vida todos conhecemos, me instigou a pensar em algo relacionado a doação de sangue, que pudesse fazer e enviar. Depois disso surgiu a possibilidade de compartilhar quadrinhos digitais, desenhos, imagens, fotos...

Entre lembranças da minha vida, aquelas que se guarda no coração e algumas vezes no armário, encontrei uma camiseta. Camiseta, que minha família, em um momento de muita felicidade, criou para marcar um momento especial, o retorno do pequeno Arthur Moreira Saldanha para sua cidade natal. Com seus pais, vinha de Porto Alegre, após quase dois anos vivendo na capital em decorrência de um tratamento oncológico.

A frente da sua idade, três anos, Arthur, sempre surpreendeu as equipes médicas com sua recuperação, os visitantes com sua alegria, os amigos desta caminhada com seu comportamento maduro, e os familiares por aceitar o agressivo tratamento e tudo que este implicava, além de levar sempre seu sorriso aos ambientes que frequentava.

Em meio à realidade do hospital, nós dividimos com muitas famílias o mesmo sentimento. Vindos de realidades diferentes, muitos pais e mães ficavam sozinhos, longe das famílias, muitas crianças também, enquanto seus pais continuavam suas vidas. Com visitas frequentes, brincadeiras, presentes, palavras animadoras e amigas, sempre um de nós (primos, tios, avós e amigos do Arthur e da família) estavam ao lado deles.

Fanático pelo Inter, recebeu entre outros presentes uma bola autografada e a visita do ex-jogador Falcão. Causando espanto aos visitantes, nas paredes dos quartos onde ficava podíamos ver folhas e cartolinas coladas por ele e pelos pais, onde desenhavam juntos e mantinham o guri sempre em atividade. Hora brincando com os super heróis, com massa de modelar, com as tintas e lápis de cor, sem esquecer dos livros de histórias infantis e fantoches sempre presentes, dos filmes e do vídeo game. Assim que chegava aos locais de procedimentos, o “Quarto do Arthur” se tornava ponto de encontro para as demais crianças, suas famílias e profissionais de saúde. Contou com seus pais vinte e quatro horas ao seu lado, Andhré Alvarino Lacerda Saldanha e Fabiana Moreira Saldanha, dedicaram-se integralmente ao tratamento, acompanhando e incentivando o filho.

Seu quarto de isolamento, onde passou quarenta e cinco dias após o auto transplante de medula, tido como o mais alegre de todos os tempos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, recebeu clics por ter sido decorado com seus brinquedos e desenhos. Os brinquedos eram cuidadosamente higienizados diariamente por seus pais –em decorrência de sua baixa imunidade no período- para que ele pudesse continuar brincando, cantando, dançando, vivendo normalmente enquanto se recuperava desta que era a última etapa do seu tratamento. Nesse período, só podíamos nos comunicar através de um vidro, que separava o quarto de uma sala. Época em que decidiu como queria ser recebido quando voltasse para Uruguaiana, em suas palavras “com um ‘churrascão’, com todos os amigos e a família”, fazia planos de assistir o novo filme do Homem Aranha de quem era fã, e comemorar aniversário com decoração do Shrek.

Ao retornar para Uruguaiana, quando foi recebido com uma carreata na entrada da cidade, ocasião em que usamos as camisetas “você é nosso orgulho e nosso grande campeão” e com seu sonhado ‘churrascão’ junto a amigos e familiares, lembrando uma frase que muito repetiu durante o tratamento “Família unida, família feliz”.

Mesmo não vencendo a doença que nos privou de seu sorriso, Arthur, O+ mobilizou doações de sangue e envolveu conhecidos e anônimos nesta atitude, deixando mensagens de superação e esperança.