2007 tinha tudo para ser o ano perfeito. Eu, ao menos, pensava isto. Eu iria trabalhar com meu irmão, o Chico, levantando material e escrevendo livros sobre turismo. Era verão. O Francisco tinha sido promovido, fez 28 anos no dia 09 de janeiro. Era uma tarde quente. Eu e nossa mãe (Eloisa) fomos cumprimentá-lo em Gramado. Ele nos convidou para tomar um sorvete lá na Velha Bruxa, no centro de Gramado. Chamamos nossa irmã, a Cintia. Tinhamos perdido nosso pai fazia quase cem dias. Lá estávamos os quatro tomando sorvete, contando sobre os planos de cada um, rindo e sequer desconfiando do que o destino tinha planejado para nós.
Na hora de ir embora, o Francisco sentou no banco do frente, nossa mãe dirigia, eu e a Cintia no banco de trás. Ele ficou no hotel em que trabalhava e a Cintia passou para o banco da frente. Eles se abraçaram. Eu abanei para o meu irmão.
A Cintia e o Francisco moravam em Canela, encostado em Gramado. Eu e nossa mãe, em São Francisco de Paula, uns 40km de distância. Eles ficaram e nós fomos para as nossas casas. No meio do caminho senti algo estranho e comentei com ela: "Eu não me despedi do Francisco". Ela respondeu: "E daí? Logo vocês se encontram". Minha resposta ficou no pensamento: "Eu não vou reencontrar o meu irmão".
Provavelmente a minha intuição estava me dando um sinal do que vinha pela frente.
No dia 12 de janeiro, sexta-feira, era a formatura de um primo nosso, em Porto Alegre. Eles iriam. Eu não. Na época, eu e o João (meu marido) tinhamos um bar em São Chico, a Casa Etílica. Uma semana antes tinhamos sido assaltados, na saída de mais uma noite de trabalho, com revólver na cabeça e muito terror. Não havia ânimo para ir a uma festa. Além disto, algo me dizia que eu tinha que ficar perto da nossa mãe. E eu fiquei.
No dia 13, antes da sete da manhã, acordei com mal estar. Fui até a janela e vi o tempo fechado de cerração. Um aperto no peito e pensei: "Droga, mais um dia cinzento, não vai dar para tomar banho de sol". E o aperto continuava. Voltei para a cama e dormi mais um pouco.
Perto do meio-dia, o telefone da minha mãe tocou. Era a polícia rodoviária. Perguntaram se ela era a mãe do Francisco, que o telefone tinha sido encontrado no carro e que ele estava no HPS de Canoas, em função de um acidente de carro.
O mundo parou. O mundo caiu. Alguma coisa muito grave tinha acontecido.
Em minutos lembrei os telefones de quase todos os parentes. A Cintia, que ainda estava em Porto Alegre, foi para o HPS com toda a família, que tinha ido à formatura. O Francisco saiu da festa e foi direto para a estrada. Ele queria amanhecer na praia. Aproveitar o final de semana, pois tinha sido promovido e sabia que o trabalho dali em diante seria mais puxado. Só que o Francisco estava cansado e dormiu na direção. O carro entrou debaixo de um caminhão. O Francisco estava internado no HPS, de Canoas, com esmigalhamento na carótida (o que não permitiu oxigenamento ao lado da cabeça que não fora atingida) e amassamento no outro lado da cabeça.
Quando fomos avisados do acidente, o Francisco já estava na mesa de cirurgia. E aqui começa a história da Associação. Naquele sábado era dia de coleta de sangue do HEMORGS (Hemocentro do RS) no HPS. Tudo parecia ser um dia normal. Na cirurgia, o Francisco precisou de 40 bolsas de sangue e plasma. Conforme conseguíamos avisar as pessoas sobre o acidente, parentes e amigos corriam para o Hospital e já doavam sangue. O problema maior foi a festa na noite anterior, onde muitos tinham bebido e só poderiam doar sangue doze horas depois. Nós não sabíamos disto.
Os médicos ora davam esperanças, ora diziam que a morte dele era questão de instantes. Nem é preciso dizer que o desespero tomou conta de todos. Quando uma pessoa de 80 anos está para morrer é possível manter a calma. Ela viveu e nós sabemos que quem fica velho, morre. Mas um rapaz de 28 anos, cheio de saúde, receber a notícia de que ele está para morrer... nem tudo o quê queremos pode acontecer. Precisamos acreditar mais na vida e no seu sentido misterioso. Precisamos deixar a vida falar conosco.
Oi Paty,
ResponderExcluirTrabalhei com o Chico no hotel em Gramado durante quase um ano. Ele era meu braço direito, companheiro, um grande AMIGO!
Trabalhávamos de segunda a segunda, horas e horas por dia e, nos momentos mais estressantes, era o Chico que me acalmava e dava força para continuar.
Fiquei chocada com a notícia do acidente do Chico... não acreditei... Coincidência ou não, pensava muito nele naqueles dias... Tentei falar com ele no dia 13 de janeiro e nada... Exatamente dois meses depois é que soube o que havia acontecido.
Admiro muito o seu trabalho, seu empenho e dedicação. Gostaria de participar mais de perto da Associação mas no final de 2005 vim para minha terra e nunca mais voltei a Gramado.
Deixo minha solidariedade, meu carinho e meu respeito pela Associação Chico Viale. Tenho certeza que o Chico está muito feliz com o seu trabalho!
Tudo aquilo que precisar, não hesite em me falar! Apesar de não ser doadora, posso ajudar de outras maneiras.
Grande abraço e, quando for a Gramado, faço questão de conhecer a Associação Chico Viale pessoalmente.
Grande beijo,
Lu Batistuta
Bah, sem palavras... os resultados do nascimento dessa associação mostram que o Francisco continua, sim, dando sua força pra que a vida continue e que a gente não esmoreça com as dificuldades.
ResponderExcluirCada vez mais tua fã,
Ingrid